NARRATIVAS TRABALHADAS



Foram, também, trabalhadas outras narrativas, conforme seguem abaixo:

     1º Texto
Um conto para sacudir o esqueleto:
uma moça e uma rosa assombrada

1.   Leia o conto a seguir e procure imaginar as vozes e os acontecimentos narrados.


A rosa assombrada

Há mais ou menos uns cem anos, vivia em Bom Despacho uma moça órfã que vira e mexe ia rezar para Santo Antônio e acabou arrumando um fã: o sacristão.
Certo dia, a moça estava rezando com muito fervor. Sem perceber, pediu em voz alta:
— Santo Antônio, me dá um sinal! Quero saber com quem eu vou casar.
O sacristão, que estava atrás do altar, aproveitou a deixa e sapecou na hora, disfarçando a voz:

— Você vai casar com aquele que lhe entregar uma rosa bem na saída da igreja.
Depois, tratou de sair pela porta da sacristia, para pegar depressa a primeira rosa no primeiro túmulo do cemitério e ir para a frente da igreja.
Acontece que o túmulo era justamente o da mãe da órfã, mas o sacristão só se lembrou disso quando a moça apareceu.

Sentiu um frio na espinha.
Havia muita neblina naquele fim de tarde chuvoso, mas, mesmo assim, olhando para o lado do cemitério, dava para ver que o túmulo tinha sido roubado.
A moça vinha esbaforida com a resposta que ouvira no altar. Quando viu o sacristão lhe estender uma flor, arregalou os olhos e exclamou:
— Mãe!
Era só uma exclamação.
Mas o sacristão achou que a moça estava vendo a alma da mãe atrás dele.
Largou a flor e saiu correndo.

Vinha passando um rapaz bonito. Foi ele quem apanhou a rosa.
Aí aconteceu uma coisa realmente estranha.
A moça escutou uma voz muito clara:
— Vai casar é com este!
Dito e feito. Alguns meses depois, a moça casou com o rapaz bonito.


(Agora, cá entre nós, quem falou “Vai casar é com este” foi o sacristão – de novo. Ele olhou para trás enquanto corria, viu o rapaz entregando a flor e adivinhou na hora.).


LAGO, Angela. Sete histórias para sacudir o esqueleto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002, p. 35-43.







2º Texto

O conto "Pechada" foi lido e encenado em sala de aula, trata do preconceito linguístico, tema trabalhado em "Variedades Línguísticas":


Pechada


O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
     – Aí, Gaúcho!
     – Fala, Gaúcho!
     Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente.
     A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

     – Mas o Gaúcho fala “tu”! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
     – E fala certo – disse a professora.  – Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
     O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
     Um dia, o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
     – O pai atravessou a sinaleira e pechou.
     – O quê ?
     – O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
     A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.– O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge.
     – Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
     – E o que é isso?
     – Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
     – Nós vinha...
     – Nós vínhamos.
     – Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.


     A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito. Pechada. “Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido. Pechada.
     – Aí, Pechada!
     – Fala, Pechada!

Fonte: VERÍSSIMO, Luis Fernando. Pechada. Revista Nova Escola. São Paulo, maio 2001




3º Texto


O conto "Um fantasma chamado Wanda" foi lido e interpretado pelos alunos.

                                                                                  
Um fantasma chamado Wanda
Dan Greenburg

Quando o primeiro fenômeno sobrenatural ocorreu aqui em casa, nem percebi direito o que estava acontecendo. Justo eu, que gosto tanto de coisas estranhas... quer dizer, contanto que elas não me assustem muito.
Bom, melhor contar para você quem sou. Meu nome é Zeca. Tenho dez anos. E acho que sempre fui interessado nessas coisas esquisitas. Tipo lobisomem, vampiro, zumbi e casa que tem torneira que solta sangue no lugar de água. Uns negócios assim.
Para falar a verdade, eu nunca vi nenhuma dessas coisas, não. Mas também, só tenho dez anos.
Bom, deixa eu continuar minha história. Já faz uns meses que isso aconteceu: acordei no meio da noite com todas as portas do apartamento abrindo e fechando. A porta do quarto do meu pai, do meu quarto, do banheiro, do armário. Elas ficavam abrindo e fechando sozinhas, sem parar. Eu pensei: “Tudo bem, deve ser o vento”. E peguei no sono de novo. Se naquela noite eu soubesse o que estava acontecendo de verdade, acho que não teria ficado assim tão calminho.
Quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que reparei foi na bagunça que tinha virado o meu quarto. Bom, eu não quero que vocês imaginem a coisa errada. Meu quarto está sempre na maior bagunça. Mas naquele dia, estava uma zona completa.
As calças que eu tinha tirado na noite anterior e jogado no chão estavam penduradas nas cortinas da janela. Os tênis que eu tinha jogado no canto estavam dentro da cesta de lixo. Minha camiseta estava pendurada no lustre. Minhas cuecas tinham ido parar na cabeça do meu ursinho de pelúcia. Eu tinha certeza absoluta de que não tinha feito essas coisas. E nem podia imaginar quem é que tinha espalhado minhas roupas daquele jeito.
Arrumei toda a bagunça o mais rápido possível. Não fiz isso por gostar do meu quarto em ordem. Fiz porque não queria ver meu pai entrando lá e dizendo:
 __E aí, filho, o que é que está fora do lugar?
Meu pai é genial, eu adoro ele. Mas é fanático por limpeza. E eu detesto quando entra no meu quarto e diz:
__E aí, Zeca, que tal dar uma geral?
Quando terminei de arrumar o quarto, fui ao banheiro escovar os dentes. E foi lá que encontrei uma bagunça ainda maior. Alguém tinha lambuzado o espelho com espuma de sabonete. E colado o assento na privada com esparadrapo. Seria algum cara querendo aprontar comigo? Ou será que tinha alguma coisa esquisita rolando?
__ Zeca, você já acordou? – era meu pai chamando do corredor.
__ Já, pai - respondi.
Ele enfiou a cabeça pela porta do banheiro.
__ Tudo bem - ele disse.
Voltei para meu quarto e fiquei de boca aberta. O quarto tinha ficado na maior bagunça outra vez. Além disso, todos os fios elétricos estavam enrolados. E alguém tinha pintado um bigode e barba na foto da minha avó Lia. Só podia ser alguém aprontando comigo. Tinha mesmo alguma coisa estranha rolando.
__ Que tal dar uma geral? - perguntou o meu pai.
Deu para perceber que meu pai estava bravo com aquela bagunça.
Meus pais são separados. Eu passo uma parte do tempo com ele, outra com minha mãe. A casa do meu pai sempre foi mais organizada que a da minha mãe. Quer dizer, até agora.
__ Pai – eu disse – acabei de arrumar o quarto, tá? Faz um minutinho, antes de ir escovar os dentes no banheiro, eu juro. Sei que isso parece coisa de louco, mas acho que tem alguma assombração aqui, ou coisa do gênero.
__ Zeca, eu não ligo se você de vez em quando fica com preguiça e larga o seu quarto na bagunça - disse o meu pai – Mas detesto mentira.
__ Eu não estou mentindo – respondi – É verdade que arrumei o quarto faz um minuto! Não fui eu quem fez essa zona aqui.
A cara do meu pai era de quem estava acreditando. Mas, bem naquela horinha a televisão que fica em cima da estante começou a flutuar. Depois ela voou devagarzinho e aterrissou na minha cômoda sem fazer nenhum barulho.
Meu pai ficou só olhando. Os olhos dele estavam arregalados. Os meus também.
__Você sabe, Zeca – ele disse, depois de um tempão – no final das contas, acho que estou acreditando em você...

Um fantasma chamado Wanda. Dan Greenburg. S.P, Ed. Ática.




4º Texto

Unu Nile  – Todos Vocês


Depois de formar a Terra, o Criador, todos os meses, realizava uma festa no céu para as aves, pois a mãe-terra ainda era jovem e não havia árvores frutíferas suficientes para alimentar a todas. Ele também aproveitava a ocasião para agradecer as aves pelos seus lindos cantos, dia e noite.
Nesses tempos, a tartaruga vivia se queixando, pois fora criada com muito peso nas costas, suas pernas eram tão curtas que quase não conseguia se locomover e, ainda por cima, precisava andar muito atrás de comida. Todos os dias, queixava-se:
— Se eu tivesse asas, tudo seria diferente... A minha vida seria mais fácil.
Enquanto as aves, do alto das árvores, comiam frutas, a tartaruga, embaixo, lamentava a sua sorte, pois tinha que se contentar com os restos que caíam dos bicos delas.
De tanto ouvirem as lamentações da tartaruga, as aves fizeram uma reunião e decidiram ajudá-la. Cada uma doou uma de suas penas para confeccionar o melhor par de asas para o pobre réptil e ensiná-lo a voar.
A partir daquele dia, a vida da tartaruga mudou. Passou a fazer tudo que sempre havia desejado: voava de árvore em árvore, comendo as melhores frutas. Ela zombava dos animais que não tinham asas, pois não se considerava mais um réptil, mas uma ave. Deixou-se dominar pelo orgulho.
Na véspera da viagem para o céu, as aves convidaram a tartaruga para a festa do
Criador, reservada só para os animais que voavam.
Egoísta e ingrata, a tartaruga ficou matutando um modo de comer o melhor da festa.
Antes da viagem, ela disse às aves que o céu era um lugar especial e, portanto, deveriam entrar lá de um modo especial. Propôs que cada uma escolhesse um novo nome. As aves aceitaram e todas escolheram um novo nome, cada um mais bonito do que o outro. A tartaruga ficou por último e disse que seu novo nome era Todos Vocês. As aves acharam aquele nome muito estranho, mas ninguém se importou.
Durante a viagem, a tartaruga fez questão que cada uma repetisse seu novo nome muitas vezes para que não se esquecessem. Chegando ao céu, todas assinaram o livro de presença com seu nome novo. Sentaram-se à mesa, o Criador agradeceu a todas pelos seus belos cantos e mostrou-lhes as iguarias preparadas para elas. Terminado o discurso, a tartaruga levantou e perguntou ao Criador para quem ele fizera todas aquelas delícias. Ele respondeu:
— Para todos vocês!
Nesse momento, a tartaruga lembrou as aves do seu novo nome: Todos Vocês; portanto, a mesa posta era só para ela. Que esperassem a vez delas.
Ela comeu e bebeu, enquanto as aves só olhavam. Elas ficaram muito decepcionadas com a atitude da tartaruga.

Quando chegou a hora de voltarem à Terra, cada uma delas tratou de pegar sua pena de volta e, num instante, a tartaruga ficou sem asas.
Ao entrarem para limpar o salão, os empregados encontraram a tartaruga escondida e lançaram-na para a Terra; a queda foi tão forte que o seu casco duro e brilhante quebrou-se em pedaços.
A formiga e seus filhotes acharam o casco da tartaruga todo quebrado e pensaram que o pobre animal estivesse morto. Então juntaram e emendaram o casco para construir um formigueiro.
Passados alguns dias, a tartaruga se sentiu melhor, levantou-se e saiu andando.
E foi assim que a tartaruga ganhou o casco emendado que tem até hoje.

 SUNNY. Ulomma. A casa da beleza e outros contos. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 23-28.






















2. Conhecendo a versão brasileira

Agora, ouça a leitura que seu professor fará da versão brasileira, recolhida e publicada pelo pesquisador Luís da Câmara Cascudo, que você já conhece. Com base no trabalho dele, a autora Christiane Angelotti fez algumas adaptações e publicou o conto a seguir:

A festa no Céu

Entre os bichos da floresta, espalhou-se a notícia de que haveria uma festa no Céu. Porém, só foram convidados os animais que voam.
As aves ficaram animadíssimas com a notícia, começaram a falar da festa por todos os cantos da floresta. Aproveitavam para provocar inveja nos outros animais, que não podiam voar.
Um sapo muito malandro, que vivia no brejo, lá no meio da floresta, ficou com muita vontade de participar do evento. Resolveu que iria de qualquer jeito, e saiu espalhando para todos que também fora convidado.
Os animais que ouviam o sapo contar vantagem, que também havia sido convidado para a festa no Céu, riam dele.
Imaginem o sapo, pesadão, não aguentava nem correr, que diria voar até a tal festa!
Durante muitos dias, o pobre sapinho, virou motivo de gozação de toda a floresta.
— Tira essa ideia da cabeça, amigo sapo – dizia o esquilo, descendo da árvore. — Bichos como nós, que não voam, não têm chances de aparecer na festa no Céu.
— Eu vou sim – dizia o sapo muito esperançoso. — Ainda não sei como, mas irei. Não é justo fazerem uma festa dessas e excluírem a maioria dos animais.
Depois de muito pensar, o sapo formulou um plano.
Horas antes da festa, procurou o urubu. Conversaram muito, e se divertiram com as piadas que o sapo contava.
Já quase de noite, o sapo se despediu do amigo:
— Bom, meu caro urubu, vou indo para o meu descanso, afinal, mais tarde preciso estar bem disposto e animado para curtir a festa.
— Você vai mesmo, amigo sapo? – perguntou o urubu, meio desconfiado.
— Claro, não perderia essa festa por nada – disse o sapo já em retirada.
— Até amanhã!
Porém, em vez de sair, o sapo deu uma volta, pulou a janela da casa do urubu e vendo a viola dele em cima da cama, resolveu esconder-se dentro dela.
Chegada a hora da festa, o urubu pegou a sua viola, amarrou-a em seu pescoço e voou em direção ao Céu. Ao chegar ao Céu, o urubu deixou sua viola num canto e foi procurar as outras aves. O sapo aproveitou para espiar e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e saltou da viola, todo contente.
As aves ficaram muito surpresas ao verem o sapo dançando e pulando no Céu. Todos queriam saber como ele havia chegado lá, mas o sapo, esquivando-se, mudava de conversa e ia se divertir.
Estava quase amanhecendo, quando o sapo resolveu que era hora de se preparar para a “carona” com o urubu. Saiu sem que ninguém percebesse, e entrou na viola do urubu, que estava encostada num cantinho do salão.
O sol já estava surgindo, quando a festa acabou e os convidados foram voando, cada um para o seu destino.
O urubu pegou a sua viola e voou em direção à floresta.
Voava tranquilo, quando, no meio do caminho, sentiu algo se mexer dentro da viola. Espiou dentro do instrumento e avistou o sapo dormindo, todo encolhido, parecia uma bola.
— Ah! Que sapo folgado! Foi assim que você foi à festa no Céu? Sem pedir, sem avisar e ainda me fez de bobo!
E lá do alto, ele virou sua viola até que o sapo despencou direto para o chão.
A queda foi impressionante. O sapo caiu em cima das pedras do leito de um rio, e mais impressionante ainda foi que ele não morreu.
Nossa Senhora viu o que aconteceu e salvou o bichinho.
Mas nas suas costas ficou a marca da queda; uma porção de remendos.
É por isso que os sapos possuem uns desenhos estranhos nas costas, é uma homenagem de Deus a este sapinho atrevido, mas de bom coração.

Christiane Angelotti (adaptação do folclore brasileiro).www.abckids.com.br























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